
As limitações intelectuais do
homem diante do mistério do universo e de seu próprio mistério metafísico são
totais e simples de explicar, comparando-se-as com a limitação dos outros
animais, que o homem aceita e compreende (porque seu orgulho não está em jogo).
Um cão, um gato, até mesmo uma formiga ou uma pulga podem apreender
determinados fenômenos, coordená-los, imitá-los e repeti-los. Mas você não
ensina uma pulga a nadar, assim como você jamais fará com que um cão leia um
jornal, embora possa facilmente ensinar o cão a ir buscar o jornal na porta. Da
mesma forma o homem, capaz de entender inúmeros problemas (isto é, de ir buscar
o seu jornal metafísico), jamais conseguirá saber de onde veio, para onde vai e
o que faz aqui. E, se você mandar que imagine o infinito, ele não consegue
porque sempre acaba imaginando uma abóboda imensa (a do céu) que, naturalmente,
tem um outro lado.
Mas se, ao contrário, você quiser que ele imagine o finito,
ele também não consegue porque acaba limitando toda sua imaginação com uma
abóboda, aliás a mesma. E porque tem o cérebro limitado como o de qualquer
outro animal, o homem se apavora diante da morte, sem saber que esta é apenas
uma promoção intelectual saudada com uma gargalhada.
Ao morrer, o homem,
subitamente untado com uma inteligência superior (matéria pura), bate na testa
(inexistente), percebe que o pesadelo era aqui e não lá, que, na verdade, agora
é que ele está vivo, e exclama às gargalhadas; "Mas, era isso?" (Conversa
com Alçada Baptista, Romancista Português.1968)
Fonte: Do
livro, “O livro vermelho dos pensamentos”, de Millôr Fernandes
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