
Vivemos na idade da pedra em
relação aos papéis do Eu como administrador da psique. De quanto em quanto
tempo fazemos a higiene corpórea, tomamos banho? A cada 24 horas? E a higiene
bucal? A cada quatro ou seis horas? E a higiene mental? Por exemplo, quanto
tempo temos para intervir quando somos invadidos por um pensamento perturbador,
uma ideia autopunitiva, um estado fóbico? No máximo, cinco segundos.
Usando a metáfora do teatro, o
nosso Eu, que representa a nossa capacidade de escolha, deve sair da plateia,
entrar no palco da mente e fazer a higiene de modo rápido e silencioso enquanto
está se processando o registro na memória da experiência angustiante. Como?
Impugnando, discordando, confrontando, como um advogado de defesa faz num fórum
para proteger o réu. Mas nosso Eu é lento demais. Não é educado para
administrar a psique. Ele grita no mundo de fora e se cala no território
psíquico. Faz, normalmente, o contrário do que deveria.
A grande maioria das pessoas
dirige carro, mas não aprendeu a dirigir as próprias emoções, reações e
pensamentos. Vivemos numa sociedade superficial e estressante, que todos os
dias nos vende produtos e serviços, porém não nos ensina a desenvolver um Eu
“gerente”, maduro, inteligente, cônscio dos seus papéis fundamentais. Como está
seu Eu?
O cárcere psíquico é capitaneado
por doenças psicossomáticas, depressão, discriminação, violência escolar,
dificuldade de transferência do capital das experiências, Síndrome do Circuito
Fechado da Memória, Síndrome do Pensamento Acelerado, culto a celebridades e
padrão tirânico de beleza. Tais cárceres são evidências da crise do
gerenciamento do Eu.
Com frequência, comento com meus
alunos pós-graduandos em psicanálise e psicologia multifocal que uma das
tarefas mais nobres e relevantes do Eu é mapear, esquadrinhar nossos fantasmas
e reeditar nossas janelas traumáticas. De outro modo, podemos fazer parte do
rol dos que falam sobre maturidade mas são verdadeiros meninos no território da
emoção, pois não sabem ser minimamente criticados, contrariados e, além disso,
têm a necessidade neurótica de poder e de que o mundo gravite em sua órbita.
Certa vez, perguntei a executivos
das cinquenta empresas psicologicamente mais saudáveis do país: “Quem tem algum
tipo de seguro?”. Todos responderam que tinham. Em seguida, indaguei: “Quem tem
seguro emocional?”. Ninguém arriscou levantar a mão. Foram sinceros. Como
podemos falar de empresas saudáveis sem mencionar os mecanismos básicos para
proteger a emoção? Só fazemos seguro daquilo que nos é caro. Mas, infelizmente,
a mais importante propriedade tem tido um valor irrelevante.
Em geral, esses profissionais são
ótimos para a empresa, mas carrascos de si mesmos. Acertam no trivial, mas
erram muito no essencial. E eu? E você? Ainda que possamos dizer que a mente
humana é a mais complexa de todas as “empresas”, a única que não pode falir,
infelizmente é a que vai com maior facilidade à bancarrota pelos descuidos
inadmissíveis com que a tratamos. Ela não pode ser terra de ninguém e ficar
vulnerável a todo estímulo estressante.
Sua emoção tem seguro?
Fonte:Do Livro de Augusto Cury
“Ansiedade – Como enfrentar o mal do século”
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