
Mestre Cuca (corruptela de Mister Cook) existiu realmente.
Segundo a opinião unânime dos que
o conheceram, foi o mais fabuloso cozinheiro de todos os tempos. Personagem
que, para os leitores de Seleções do Reader's Digest, se convencionou chamar de
tipo inesquecível, pelas estranhas
contingências da vida que levou.
Menino pobre, começou muito cedo
a lutar pela vida ajudando a mãe viúva no sustento da casa e criação dos irmãos
menores. Vendia pastéis e empadinhas na Estação, à hora da passagem dos trens.
À noite, à porta do cinema ou do circo (quando este aparecia na cidade), lá
estava ele com o seu tabuleiro de cocadas. E foi assim que, ajudando a velha
mãe, quituteira emérita, aprendeu os segredos das massas podres e dos pontos de
bala.
Seus irmãos estudaram, aprenderam
ofícios e conseguiram bons empregos. Ele não estudou.
— "Cadê tempo?"
Assim justificava a ignorância
das letras, que, afinal, não continuaram estranhas ao nosso autodidata, com o
correr dos anos.
Quando a mãe morreu, deixou de
lado o cesto dos pastéis e o tabuleiro das cocadas, embarcando no primeiro trem
para a Capital.
A vida nos grandes centros não
era tão difícil quanto hoje. Conseguiu logo o emprego de ajudante de cozinheiro
numa birosca do Brás. Do modesto restaurante popular, passou para a cozinha de
um clube de jogo. Aí, nas folgas entre o jantar e a ceia, aprendeu a jogar.
Ensaiou as primeiras apostas e foi ser feliz. Sempre pela mão de pessoas
diferentes, jogou forte e ganhou!
Com o dinheiro mal ganho no jogo
montou seu próprio restaurante, de efêmera duração, pois, o azar das cartas
levou de volta ao banqueiro as economias e, o que é pior, as instalações do
incipiente negócio.
Retorna à modesta função de
ajudante de cozinha. Não havia como escolher coisa melhor, pois, nesta altura
dos acontecimentos, já estava casado e era pai de dois filhos. Trabalhava num
bar junto a uma casa de apostas em corridas de cavalos — ximbica, como é
designada na gíria turfista.
Mestre Cuca — já era esse o seu
apelido — não resiste à tentação do Derby. Como sempre acontece aos novatos,
suas primeiras apostas renderam-lhe o necessário para montar novo restaurante,
bem mais modesto, entretanto, que o anterior. Chegara à idade da razão, e, num
momento de clarividência, abandona as apostas antes de se tornar um catedrático
como tantos outros entendidos, mas arruinados. E ficou rico!
Envelheceu na cozinha, mas seus
filhos, tal como sucedeu aos seus irmãos, não tomaram conhecimento nem sequer
do trivial variado. São guarda-livros, funcionários públicos, etc.
Perguntado, certa vez, sobre o
segredo de sua cozinha, sempre saborosa, informou ao curioso que o segredo da
boa cozinha é não ter segredos! Simplificara
as receitas — isto por trabalhar durante muitos anos em recintos exíguos e
sem conforto — e, concluía, que tudo que se pode fazer com um mínimo de
produtos e utensílios. Nada de malabarismos culinários. As melhores receitas,
muitas vezes, são as mais simples.
Eis o segredo de Mestre Cuca!
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