quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Mestre Cuca


Mestre Cuca (corruptela de Mister Cook) existiu realmente.

Segundo a opinião unânime dos que o conheceram, foi o mais fabuloso cozinheiro de todos os tempos. Personagem que, para os leitores de Seleções do Reader's Digest, se convencionou chamar de tipo inesquecível, pelas estranhas contingências da vida que levou.

Menino pobre, começou muito cedo a lutar pela vida ajudando a mãe viúva no sustento da casa e criação dos irmãos menores. Vendia pastéis e empadinhas na Estação, à hora da passagem dos trens. À noite, à porta do cinema ou do circo (quando este aparecia na cidade), lá estava ele com o seu tabuleiro de cocadas. E foi assim que, ajudando a velha mãe, quituteira emérita, aprendeu os segredos das massas podres e dos pontos de bala.

Seus irmãos estudaram, aprenderam ofícios e conseguiram bons empregos. Ele não estudou.
— "Cadê tempo?"
Assim justificava a ignorância das letras, que, afinal, não continuaram estranhas ao nosso autodidata, com o correr dos anos.
Quando a mãe morreu, deixou de lado o cesto dos pastéis e o tabuleiro das cocadas, embarcando no primeiro trem para a Capital.

A vida nos grandes centros não era tão difícil quanto hoje. Conseguiu logo o emprego de ajudante de cozinheiro numa birosca do Brás. Do modesto restaurante popular, passou para a cozinha de um clube de jogo. Aí, nas folgas entre o jantar e a ceia, aprendeu a jogar. Ensaiou as primeiras apostas e foi ser feliz. Sempre pela mão de pessoas diferentes, jogou forte e ganhou!
Com o dinheiro mal ganho no jogo montou seu próprio restaurante, de efêmera duração, pois, o azar das cartas levou de volta ao banqueiro as economias e, o que é pior, as instalações do incipiente negócio.

Retorna à modesta função de ajudante de cozinha. Não havia como escolher coisa melhor, pois, nesta altura dos acontecimentos, já estava casado e era pai de dois filhos. Trabalhava num bar junto a uma casa de apostas em corridas de cavalos — ximbica, como é designada na gíria turfista.

Mestre Cuca — já era esse o seu apelido — não resiste à tentação do Derby. Como sempre acontece aos novatos, suas primeiras apostas renderam-lhe o necessário para montar novo restaurante, bem mais modesto, entretanto, que o anterior. Chegara à idade da razão, e, num momento de clarividência, abandona as apostas antes de se tornar um catedrático como tantos outros entendidos, mas arruinados. E ficou rico!

Envelheceu na cozinha, mas seus filhos, tal como sucedeu aos seus irmãos, não tomaram conhecimento nem sequer do trivial variado. São guarda-livros, funcionários públicos, etc.

Perguntado, certa vez, sobre o segredo de sua cozinha, sempre saborosa, informou ao curioso que o segredo da boa cozinha é não ter segredos! Simplificara as receitas — isto por trabalhar durante muitos anos em recintos exíguos e sem conforto — e, concluía, que tudo que se pode fazer com um mínimo de produtos e utensílios. Nada de malabarismos culinários. As melhores receitas, muitas vezes, são as mais simples.

Eis o segredo de Mestre Cuca!



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